TODAS AS PESSOAS
singular primeira pessoa
O POETA
— ‘Vê, musa, quanto brilha este olhar ao te olhar...!
Cada olho feito um círio em vão delírio tenho.
Por ti, ó minha bela, uma vez mais eu venho
Na mentira do amor à vera acreditar.’
'Não poderia o actor personagem se outrar?...
Nem o artista mais belo haver-se em seu desenho?...
Eu, poeta, que em cantar tão-só a ti m'empenho,
Buscando ser amado, amador sou a amar...’
‘Pois sim, musa, o poetar tem suas liberdades.
Tu contra o arqueiro a flecha, entanto, desferiras:
A me ferires tolo e todo de saudades.’
‘Apura o ouvido, escuta: Uns acordes de liras!!
Ou mentiras que o amor faz a mor das verdades,
Ou senão, em verdade, a mais bela das mentiras.’
* * *
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.