Estou a tentar imaginar os pensamentos de quem têm a vida cheia de nada, vagos e silenciosos, estagnados num espaço à parte que se ladeia de outros espaços quase comuns e de outros, que à distância de um olhar ou de um pequeno toque tímido, se afastam em galopante desdenho.
Há também os que julgam ter tudo, mas, quando a realidade os importuna, são pobres, de espírito e de bens materiais, o amor é banal, um sentimento quase surreal, um luxo para os outros, ou de outros.
Há ainda os que têm tudo sem saber o que é tudo, aqueles cuja definição da vida se baseia em míseros números e letras que se amontoam sem sentido.
Há entretanto uma quarta classe que julga que ter tudo quanto baste é ter sempre a razão do seu lado, os auto-proclamados sábios.
De entre tanta loucura dou por mim indeciso. Com a vida cheia de tudo e nada, com alguma riqueza de espírito e, embora poucos, alguns bens materiais, desenhado por letras e números, com e sem sentido, sabedoria o quanto baste para poder dar os meus passos, nem sempre acertados, sinto-me longe e perto. Certo e errado.
Tenho a consciência de que muitas vezes fui posto de parte por não encaixar na perspectiva perfeccionista de alguém. Que há quem me tenha idealizado da forma que não sou, da forma que exigiam que fosse... não sou moldável, mas sou adaptável às circunstâncias quando vejo que estou errado e o outro está certo, reaprendo-me aos poucos. Aos poucos, sim! Tenho altos e baixos, penso, entristeço, alegro, esqueço lembro, memorizo, ensino, aprendo e sinto, porque entendo ter alguma humanidade em mim.
Esta vida serpenteia entre as opiniões de quem acha que as deve ter, dos que se pensam como anciãos e guardiões dos templos da verdade e da razão única. Como se esses templos significassem alguma coisa para mim. Cada um é um templo, um diamante para lapidar. Mas nem todos têm a arte ou a capacidade de, a cinzel, desenhar em mim linhas que encaixem nas suas, são muito poucos os que o podem fazer, mas mesmo esses têm de aprender como. Assim como eu também tenho de aprender como. Somos todos artífices uns dos outros.
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma