A ensolarada manhã que se debruçou hoje sobre Abril, baptizada pelo dúvida e pelo mistério que sempre traz o nevoeiro, fez-me lembrar os anos em que ainda sabia de cor o momento da mudança de estação e os cheiros das flores acabadas de acordar. Fez-me pensar que as coisas podem voltar a ter uma certa beleza que só já conhecia dos livros e de alguns quadros bucólicos onde as crianças de hoje em dia tentam imaginar esses odores do campo e tentam ouvir o cantar dos grilos.
É verdade, nesta manhã senti-me invadido por um turbilhão de memórias que me acordaram os sentidos. Sei que não irá durar muitos dias porque "Abril, águas mil", mas isso não me importa, o que realmente importa é que fui transportado à tenra idade de dez, doze anos... quinze, dezasseis... por aí, mais anos, menos anos. Onde nestes dias se juntavam a família e os amigos num cómodo, aprazível e saudável repasto no campo, junto ou não a uma pequena barragem pouco interessa.
Fui até à rua, parei-me por uns segundos em frente destas memórias e reflecti sobre este momento... curta reflexão porque fui subitamente despertado pelo chilrear de alguns pardais aninhados nas árvores, talvez também eles tivessem a mesma sensação de liberdade que por vezes incomoda o frenesim calculista e consumista com que nos identificamos socialmente hoje em dia. Para mim foram alguns dos melhores momentos que passei neste ano, os que se avizinham não auguram nada de bom.
São muitas as imagens que se conseguem reter num curto espaço de tempo, e eu consegui passar em revista tudo o que já veio neste ano bissexto, tudo o que foi bom e tudo o que me deitou por terra. Aproveitei algumas coisas... o sorriso de um pai, o sorriso de uma mulher, o sorriso de um miúdo, a música e as palavras, os que se mostraram amigos, alguns abraços e o outro lado.
Talvez amanhã tenha outro momento assim.
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma
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