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Textos de Quarentena 23

 
Toda a minha vida foi um coma social auto-induzido, ignorei o verdadeiro real e embarquei numa cruzada por valores mais altos que a própria compreensão, valores que outros advogam como certos.
Permiti que dividissem o Mundo em dois, a classe social em quatro, a família em milhares. Permiti que este Mundo se tornasse um manto de retalhos com diferenças de cores e ideais. A partir daí desenvolveram-se estigmas em volta daqueles que vivem com o seu olhar catatónico, no seu Mundo privado, de outros que não vêem, ouvem ou falam, cujo corpo se alimenta de síndromes diversos, a esses chamam-lhes diferentes.
Agora vejo que não existe gente diferente, mas sim especial, gente capaz de nos fazer sentir as limitações da vida, a sua pequenez, a nossa pequenez. Por isso fazemos constantes promessas – não passam de mentiras – para ajudar esses «aleijados», sempre com a consciência de que apenas nos estamos a ajudar a nós. Somos egoístas, consumistas egoístas. Consumimos o que de bom há nos que dizemos ajudar por oportunismo. Não somos nada e não o conseguimos negar, se o conseguirmos um dia alcançaremos o patamar mais elevado da evolução, mas ainda muito distante do que limitamos como perfeição, o objectivo inalcançável.
Durante muitos séculos conseguimos dividir-nos em «Senhor» e «escravo» e subdividir os segundos em aptos e inaptos, criámos regras a que chamámos leis e forçámo-nos a cumpri-las – embora nem sempre – criando castigos para outros que as não respeitassem ou que tentassem alterá-las, isso levou a pelejas entre seres iguais, ao desenvolvimento tecnológico da forma de matar, à doença baseada na loucura e no medo constante dos povos, que deveriam ter sido sempre um só.
Ninguém está a salvo da insanidade artificial, da incapacidade de dizer ou escrever «sim» – que não é mais que contra-negação ou dupla afirmação, pela lógica matemática que criámos e desenvolvemos –, quando se exige que se tal faça.
«Sim! Vamos acabar com esta loucura!»
«Sim! É o fim da guerra!»
A partir de hoje irei reaprender a chorar, a pensar, a ser humano. Não irei venerar nenhum Deus, apenas algumas palavras que considere serem reais. Como disse um dia o Dalai Lama, quando questionado sobre o que mais o surpreendia na humanidade: «O Homem porque sacrifica a saúde para fazer dinheiro, dinheiro que depois utiliza para recuperar a saúde. Porque vive tão ansioso com o futuro, que não aprecia o presente: não vivendo nenhum deles. Vive como se nunca fosse morrer e morre nunca tendo vivido.»
Todos os dias me olharei ao espelho, todos os meus dias dirão não ao não…


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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