O que quer
dizer
o querer?
Por que outro nome,
com que outro verbo
e que outro ar?
Com que outros riscos, ou linhas, gritos,
o posso desenhar?
Outra imagem com que o explico,
esse dizer que me é estranho,
como o frio da neve,
o ardor do fogo,
o sal da maresia.
Ou
da raiz à folha,
do chão até ao tecto,
da nascente à foz,
onde vai o que digo?
E da videira à rolha,
da curva ao recto,
do breu à voz
ou da semente ao trigo.
Da indecisão à escolha
do correcto ao incorrecto,
do eu até ao nós...
Com que alfabeto consigo?
Essa permanente vontade de chamar,
tocar com o olhar e ferir com a boca,
entre dentes
definir.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.