Sol... chuva... frio... calor... e o tal tempo que nunca tem tempo para si, não o tempo das nuvens e do vento, mas sim aquele que nos conta os passos, umas vezes mais apressados para chegarmos a tempo, outras vezes mais lentos porque temos tempo. Olhar em redor e parar no meio do nada, a ouvir nada... nem um passo, nem mesmo o respirar do vento que é de outro tempo. Ouço só o bater constante do ponteiro dos segundos que me aproxima cada vez mais da meta que todos temos, o fim do nosso tempo, o início do tempo de outros que virão depois de nós.
Tudo agora passa lento, arrasta-se de tal forma que consigo dar conta de todos os pormenores de cada acção e de cada atitude. Consigo até desvendar os mistérios que se escondem por detrás de cada letra e da soma de todas elas na procura de construírem o seu futuro, a palavra. E depois os mistérios acumulados que me traz cada palavra, e cada frase, e cada livro. Dou por mim na terrível demanda pelos mistérios que se escondem nas ideias de quem escreve os livros que leio. Se ao menos conseguisse decifrar parte desses mistérios, mas... e os meus? Sim, eu também junto letras e palavras e frases e textos, eu também escrevo livros, eu também tenho os meus mistérios para descobrir e entender.
Será sensato deixar que sejam os outros... vocês, a decifrar os meus mistérios?
Provavelmente deveria almejar a conhecer-me a mim próprio. Posso começar por me ler de vez em quando e de fazer ecoar dentro de mim as ideias que me fizeram escrever o que escrevo. Não me percebo. Talvez seja esta a génese da minha loucura, ou da loucura de qualquer um de nós, até vossa. Sim, porque cada um de vós é um heterónimo meu, a cada um de vós eu roubo um pouquinho de história, são todos personagens do meu livro, quer queiram, quer não.
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma