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Textos de Quarentena 16

 
Ouço Astor Piazzola, o cantar melancólico, sensual e enamorado do seu acordeão ecoa nos espaços vazios da minha mente e por vezes as notas desconcertantes, que parecem não rimar umas com as outras, começam a ocupar espaços vitais à minha sobrevivência, fazem-me respirar pautadamente. O mistério da sua música faz-se de Tango, mas a sua essência faz-se de gentes e do olhar desconfiado do ser humano, até que, subitamente, nos acorda todos os sentidos.
O paladar, principalmente o paladar, faz-nos aprender a saborear a vida para lá desta vida, para lá deste confinamento a que estamos obrigados, faz-nos pensar que ainda temos outros sentidos para desfrutar. Muitos de nós, por exemplo, nunca souberam quais eram os cheiros de um campo de girassóis ou de uma seara de trigo, eu ainda os tenho na memória, ou mesmo o cheiro das primeiras chuvas de outono, da terra recém borrifada depois de um escaldante verão.
Mas o sentido que mais falta nos faz é o de humanidade, feito de memórias e desejos, de conhecimentos e compreensão, de mãos dadas e abraços, de olhos nos olhos, de ti e de mim.
Ouço Piazzola como se me ouvisse a mim na voz esclarecida da música ou na rima perfeita de um poema.
Caminhamos para as cavernas se nos esquecermos de cada momento e se não nos lembrarmos que nada foi tempo perdido.


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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