As nossas vozes nunca mais serão as mesmas... Daqui por uns tempos, quando acabar este isolamento precário, mas necessário por força das circunstâncias, daremos por nós a travar novos conhecimentos e a falar com pessoas numa sensação de "déjà-vu", aquela coisa de saber que se conhece aquela voz, mas sem se saber de onde.
Já percorri todo o mundo em mensagens. De Itália vieram-me sinais de esperança e de angústia, de Marrocos o medo do contágio, de Espanha a incerteza de haver um dia de amanhã, da Alemanha as saudades de casa, do Brasil a revolta contra a ignorância, de Inglaterra o desnorte, de França uma falsa serenidade para enganar a mente. Mas tudo sem ouvir uma única voz. Por cá saltamos da precaução para o medo, da sensatez para a estupidez, do sim para o não... de hoje para o passado, porque já ninguém arrisca antever o futuro.
A solidão, ou a pseudo-solidão, entrelaça memórias e reforça laços até então inexistentes, mas também cria fantasmas e molda o pensamento.
Algumas memórias ganham cor, mesmo aquelas menos boas, que também, por vezes, já trazem saudades.
Os fantasmas trazem memórias de outros tempos que muitos de nós não chegaram a viver, descrevem a forma como os outrora fracos eram tratados e tenta-nos a repetir esses mesmos erros.
As nossas vozes ainda cantam, ainda gritam. Porém esse tempo tende a extinguir-se e a dar lugar a novos conceitos de sociedade, mais sectarista, mais elitista, mais belicosa e menos humana. Os fracos serão sempre vistos como mais fracos, mas unidos serão sempre mais perigosos, os fortes serão sempre vistos como mais fortes, mas também mais egoístas. É um ciclo vicioso... ou um vício cíclico, depende do ponto de vista de cada um.
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma