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Re: fi'd'algo
. "Ele fará com que todas as pedras do altar fiquem como pedras de cal que foram pulverizadas, e não restará nenhum poste sagrado nem altar de incenso." (Isaías, 27:9)
O centro deste poema, para mim, é a metáfora da cal, elemento que, apesar da aparência rochosa, se desfaz com facilidade, constituindo por isso símbolo da fragilidade e da precariedade da vida. De facto, as dicotomias robustez / vulnerabilidade, permanência / transitoriedade são fundamentais para compreender este teu poema. Começa pelas semelhanças de som (algo/alga/algum) para chegar às rimas semânticas: ao mar, à terra, ao ar, signos primordiais que nos circunscrevem, dependentes que estamos destes elementos para compreendermos os mistérios da vida, da morte, da eternidade. Deste ponto de vista, não haveria melhor definição para a condição humana do que o verso "carne de brisa", um existir que sonha em materializar-se em sonho (o pleonasmo é intencional), mas que encontra nos limites da pele uma circunstância inescapável. Por isso, é 'filho de algo' por etimologia, mas 'fim de algo' por essência, aceitação de um voo que pode ser, surpreendentemente, ironicamente, trágico e libertador. Abraço, irmão. Traz-nos mais como este, por favor.
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