Poemas : 

fi'd'algo

 
Tags:  alguém  
 
alga no mar
algo da terra

assim me defino

algum
que no voo é carne de brisa
a pele do vento

vou correndo
pedra de cal

no sonho no sonhar que nunca
se materializa


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/03/2020 14:32  Atualizado: 23/03/2020 19:20
 Re: fi'd'algo
.
"Ele fará com que todas as pedras do altar fiquem como pedras de cal que foram pulverizadas, e não restará nenhum poste sagrado nem altar de incenso." (Isaías, 27:9)

O centro deste poema, para mim, é a metáfora da cal, elemento que, apesar da aparência rochosa, se desfaz com facilidade, constituindo por isso símbolo da fragilidade e da precariedade da vida. De facto, as dicotomias robustez / vulnerabilidade, permanência / transitoriedade são fundamentais para compreender este teu poema.
Começa pelas semelhanças de som (algo/alga/algum) para chegar às rimas semânticas: ao mar, à terra, ao ar, signos primordiais que nos circunscrevem, dependentes que estamos destes elementos para compreendermos os mistérios da vida, da morte, da eternidade.
Deste ponto de vista, não haveria melhor definição para a condição humana do que o verso "carne de brisa", um existir que sonha em materializar-se em sonho (o pleonasmo é intencional), mas que encontra nos limites da pele uma circunstância inescapável.
Por isso, é 'filho de algo' por etimologia, mas 'fim de algo' por essência, aceitação de um voo que pode ser, surpreendentemente, ironicamente, trágico e libertador.
Abraço, irmão. Traz-nos mais como este, por favor.

Enviado por Tópico
Paulo-Galvão
Publicado: 06/02/2024 21:37  Atualizado: 06/02/2024 21:37
Usuário desde: 12/12/2011
Localidade: Lagos
Mensagens: 1440
 Re: fi'd'algo
Olá Rogério,

A condição humana é frágil e transitória, como a brisa e o vento.

Depois de passarem , depois de passarmos, disso só há memória.

Bom poema

Abraço

Paulo