No fundo do Poço
Faça de mim apenas um poço
em qualquer deserto sem água
neste infortúnio causal que ouço
em que a ternura pouca mirrava
Faça-me tela de linho branco
onde amor se desmancha nas cores
e que a dor é um mal natural
linfa impura de tantos horrores
que escorre por entre pedras de açores
Faça de mim amor para quem não entendeu
que é para todos, as regras, as lei
faça-me o fogo em que me queimei
sonorizando a dor que arrefeceu
na noite sem a lua cor de breu
Faça de mim o ator que nunca fui
ou esta tristeza que coça e arde
sem que eu possa dizer um Ui
nas entrevidas de sombras que polui
ao ver morrer a minha finita tarde
Dê-me então teu abraço; Ò noite escura!
Já não há lei,
nem dos homens, nem de Deus.
Aos meus olhos mostre o meu fim!
Só o negrume é que não poderá negar
para mim.
Alexandre Montalvan
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.