O teu olhar longilíneo e aberto convida,
a entrar na tua integridade de astro.
Os teus olhos oferecem o princípio dos sentidos, em uníssono.
No teu olhar existe o húmus do silêncio
como se permanecesse em ti
a sonâmbula infância que se entrega,
ao encanto da paisagem, ao sabor do mar e do mel.
No teu rosto há um sonho com inteligência,
como se as raízes nascessem com olhares.
Por em cada palavra tua, sentir-se
o ventre da árvore como um anjo.
No teu olhar há um caminho de extensas planícies,
a ensinar a trajetória do vento no trigo.
No olhar que ofereces, nasce um perpétuo instante,
murmurado com incêndios de amor, mais fortes que os da vida.
Perguntas: o que é estar na montanha?
É estar na liberdade e embriaguez do teu sorriso.
O teu sorriso rasga o universo
com o instinto dos bichos e dos lugares.
O teu sorriso tem sabor ao mosto da vida,
tomado no teu ardente pensamento.
Sorris como um refrão de cântico,
que devora o tempo com a alma.
No uníssono do teu olhar e do teu sorriso, há
um infinito de dádiva, como se entoasses a vindima.
Tempo onde se abriga a suavidade do sol
no fruto e na pele das cantigas.
Desabrochadas as estações, é
no outono que ensinas o ninho,
aos aprendizes a quem lhes faltam as asas.
Não obstante, com silêncio, equilíbrio e verdade,
ofereces a força da palavra, à nudez das aves.
As palavras, as tuas, vêm cheias de amor.
Acima do inaudível, ficando presentes no teu olhar,
sempre com um tom de violino,
que por de tão fino som, ouve-se a coragem dos vivos.
Pergunto-te: onde está a vida?
Respondes: está sempre onde perdes o medo.
Zita Viegas