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Re: HaikaisI p/Henrique Pedro
Caríssimo Henrique Pedro,
Você tem razão. Há, pelo menos aqui no Brasil, a opinião de alguns estudiosos dando conta de que o haikai, na verdade hai-ku, parece que a mudança deve-se a uma questão sonora, em nosso língua, seria intraduzível. As traduções, dizem, inclusive as de Bashô, Issa e outros, nos chegaram do francês. Não posso, no entanto, afirmar se isto é verdadeiro. Sei que, no Brasil, uma técnica,diagmos, mais clássica foi criada pelo poeta Guilherme de Almeida. É aquela famosa que consiste nos primeiro e terceiro versos em cinco sílabas e o do meio - o segundo - em sete. Sendo que o primeiro rima com terceiro, e a primeira palavra do terceiro verso com a última. Um poeta mais moderno nosso aqui, Paulo Leminski, não aplicava esta forma. Seus versos eram livres. Leminski morreu cedo, por causa da bebida. Mas, entre outras línguas, que eu diria exóticas, ele era um profundo conhecedor do japonês, inclusive da escrita e da cultura. Foi professor de judô. O haikai, muito usado por antigos monges japoneses - e Bashô foi deles - procurava sempre exprimir uma mensagem filosófica aos discípulos. Creio que era este a finalidade da coisa. E, quase sempre, com uma imagem meio surrealista, sugerindo um c omplemento de pintura. Como não sou teórico, às vezes sigo a técnica do velho Guilherme, outras, a do Leminski, que foi meu amigo pessoal. Quem estava certo? Eu diria que a Poesia está sempre certa. Gosto de guiar-me pela intuição. Acho que nós, poetas, somos todos intuitivos.
Forte abraço,
Júlio
PS: Cantar a natureza numa cidade de concreto e fumaça, até desumana, como São Paulo, é quase impossível. E isto, concordo, é triste.
PS 2: Para não cometer injustiça, achei o livro agora, Monsenhor Primo Vieira, outro cultuador do haikai, fez várias traduções de Bashô. Achei o livro agora, julgava-o perdido. Ele confirma que os primeiros haikais nos chegaram diretos do francês. No entanto, para traduzir Bashô, ele recorreu a uma amiga japonesa, que lhe traduziu os ideogramas, exprimindo o pensamento do poeta.
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