DOR
Não é real essa dor vomitada em lágrimas.
Não, não é.
Sou masoquista inveterado que a faço doer além do corpo
Tão próxima da alma.
Mas não chega até ela mesmo que acredite que sim.
Sou eu inventando essa arranhar no peito
me dizendo um Atlas das chagas do mundo.
Sou eu repetindo, repetindo, repetindo o mesmo momento,
o mesmo tombo que corta a carne que está além da pele.
E vem a vontade de dormir dez anos e acordar sem memória.
O esquecimento seria um doce remédio contra as dores inventadas e recriadas.
Lavo o rosto e encaro esse poço de autopiedade.
Não é real essa dor vomitada em lágrimas. (Proteus).