"Contentavam-se com matar o tempo à espera de que o tempo os mate."(Conde Fosca - Simone de Beauvoir).
CENTELHA 190
SONÂMBULOS
E fazemos tudo de novo e várias vezes.
Sofremos as perdas do que nunca tivemos
e adquirimos novas e falsas posses de coisas e gentes.
Choramos amores desfeitos.
Mas logo os substituímos por outros parecidos.
A roda gira de novo entre alegrias e tristezas.
Eterno ir e vir absurdo de lágrimas e sorrisos.
Alegrias e tristezas se revezando numa louca busca
que só termina com a morte que não é.
Eterno ocupar do tempo com passatempos infantis
que consideramos sérios.
Tudo que nos puder afastar de nós mesmos é bem-vindo
nesse sono misto de sonho e pesadelo.
Não queremos parar a roda.
Não vamos deixar de tomar a dose diária desta brincadeira
em que viramos o brinquedo.
Matamos o tempo esperando a morte.
Somos sonâmbulos que não querem ser acordados.
(Irmão Paulo de Paz).