Crónicas : 

Desacordo Ortográfico

 
1945, 1973, 1990, 2008... São muitos os países que adoptaram o novo acordo ortográfico e que, provavelmente, pouco o irão usar à semelhança do que aconteceu com os três acordos anteriores - cujas datas estão em epígrafe. Estarei eu errado ou, mediante tanta discussão sobre o assunto, este acordo é puramente político? A Língua Portuguesa é apenas uma, com variantes normais, mercê da expansão que foi desenvolvida pelos Portugueses durante os descobrimentos nos quatro cantos do mundo. Mas, sendo só uma, pretende-se que também seja una, indissociável para os povos que a conservam como sua. A disparidade de conceitos aclamada por ambas as partes que discutem a sanidade deste acordo, deixa-me a pensar nos acordos de 45, 73 ou 90... para que serviram? Dizem que para aproximar os PLOP - Países de Língua Oficial Portuguesa -, mas resiste a dúvida: aproximar, como? Como se tiveram de fazer novos acordos ortográficos (matematicamente teremos o próximo em 2014)? A língua Portuguesa não se desviou assim tanto desde os anteriores acordos, aquilo que se está fazer - note-se que nada tenho contra os PLOP - é uma cedência cultural em que todos perdem um pouco da sua cultura linguística. Nunca vi, por exemplo, os Espanhóis discutirem com as nações liguisticamente congéneres sobre tal assunto e são bem mais do que nós. Por isso afirmo: Para que, culturalmente, nos possamos lembrar do passado, deixem cada um falar como lhe é ensinado a falar.
Imagine-se o que aconteceria se agora fizessem um acordo ortográfico que abrangesse as técnicas de sms dos telemóveis, sim porque até isso já destruiu parte da Língua Portuguesa e poucos se importam com tal infame acção.
Tanto quanto sei, Portugal - assim como outros - rejeitou o Esperanto como Língua Universal... porquê se agora quer, dentro dos PLOP, universalizar o Português?
Delapida-se assim este património de indubitável riqueza em prol de, politicamente, poupar tostões?
Tantas são as questões que se podem fazer sem que, alguma vez, venham a obter uma resposta relevante.
Seria interessante referendar o Acordo Ortográfico e ver quem realmente defendia os vários estilos culturais de cada país. Chegar ao Brasil e ouvir o Brasileiro a falar o seu Português, chegar a Cabo Verde e deliciarmo-nos como Português de lá e lembrar que essas Línguas irmãs nasceram dos mesmos antepassados.
Senão vejamos, eu sou filho dos meus pais - lógico - e deles herdei certas e determinadas características, meus filhos herdarão as minhas características e as de sua mãe, será, também aqui, necessário elaborar um acordo ortográfico genético para que as diferentes gerações se entwendam na sua evolução ou paramos de evoluir para não divergirmos tanto das nossas origens?

Quem tiver coragem que reflita.


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
Autor
Alemtagus
Autor
 
Texto
Data
Leituras
4593
Favoritos
2
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
36 pontos
20
0
2
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/04/2008 14:47  Atualizado: 11/04/2008 14:47
 Re: Desacordo Ortográfico
Muito pertinente e interessante este teu texto. Colocaste o dedo numa ferida que não para de sangrar.
Sei que as opiniões se dividem e tenho ouvido argumentos prós e contra.
Interessam-me todos e também aqueles que são provenientes de quem tem como oficio a palavra, e já ouvi de tudo.
Já ouvi o argumento da unificação. Uma lingua que se escreve da mesma maneira, como veículo de aproximação entre os povos...
O argumento comercial e económico...
O argumento de aproximação aos PLOP...
Quero encontrar virtudes em todos, mas não acredito em boas vontades políticas e não tenho razões para o fazer.
Estou farto de ser mal representado, de ver gente abrir a boca para falar de Àfrica, sem conhecer minimamente a sua diversidade.
Os espanhois de que falas, convivem com várias línguas no seu próprio país e não é por isso que não se identificam como nação.
Eu acho piada ao português falado no Brasil, mas não quero falar como eles, ou melhor, escrever como os brasileiros... e muitos africanos, que sejamos realistas, em termos de escrita estão em processo de alfabetização, porque, pelas mais diversas razões e claramente culturais também, nunca precisaram de o fazer, estão a ler em livros, maioritariamente escritos em português falado no Brasil, porque as bibliotecas de Angola ou Moçambique têm nas suas prateleiras estes livros.
A dimensão da componente editorial brasileira não é sequer comparável à portuguesa, mas a nossa responsabilidade com África devia acautelar estes aspectos.
Em vez de andarmos a mandar livros em segunda mão, que já não precisamos, invista-se em parcerias que levem o português falado em portugal ao mundo.
Isto cheira-me a um aproveitamento político, que tu referes, e que nos quer fazer colar aos nossos irmãos brasileiros. Económico também.
deixem-se de histórias e promovam o que temos de bom, nem que isso seja pouco, nem que isso seja pouco...


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/04/2008 15:31  Atualizado: 11/04/2008 20:28
 Re: Desacordo Ortográfico
Alemtagus,

Não serão acordos com relação a unificação da língua portuguesa que mudarão a visão dos europeus quanto sua superioridade lingüística, educacional e comercial com relação aos países colonizados e tidos como Terceiro Mundo.Se dependesse de mim, no Brasil falaríamos o Tupi, que é era a língua falada pelos nossos índios antes da colonização.
Como tu, eu também não creio que a mudança na linguagem possa diminuir tantas distâncias.Que cada país fale de acordo com sua história!
Como o Rei da Espanha falou ao encrenqueiro Hugo Chaves o famoso "¿Por qué non te callas?", deviam os portugueses dizer o mesmo para todos que desejam a tal unificação.Bom, então tá...É isso!

Bjins meus, Betha.





Enviado por Tópico
Valdevinoxis
Publicado: 11/04/2008 17:11  Atualizado: 11/04/2008 17:11
Administrador
Usuário desde: 27/10/2006
Localidade: Aguiar, Viana do Alentejo
Mensagens: 2118
 Re: Desacordo Ortográfico
O que mais fazer senão concordar com cada letra e vírgula do que escreveste? Não nenhuma forma que sublinhe mais a riqueza cultural de um povo que a sua capacidade de moldar a comunicação e, esta é diferente em todos os cantos do mundo... tem que ser diferente pois as realidades culturais também o são.
O argumento, fartamente, utilizado da união dos povos, não é mais do que uma peneira que se põe à frente do sol. Afinal de contas, quando fui ao Brasil precisei de passaporte e passei pelas barreiras alfandegárias todas que me puseram à frente. O mesmo se passa de lá para cá e para todo o lado. Isto para dizer que não me venham com conversas de união de povos pois estes continuam e (segundo me parece) continuarão, separados pelas barreiras que a política, a economia, a distância, enfim, o contexto socio-cultural de cada país, sempre pôs.
Não acredito nestes acordos de (como diz o Torres) representantes de consenso duvidoso aquém e além-mar e acuso-os de condicionarem a evolução e a legítima vivência cultural dos povos.
A união não se faz em acordos e gabinetes, a união faz-se em sites como este, em que as pessoas se conhecem e trocam ideias escritas e ditas culturalmente e de forma diferente. A união faz-se de mal-entendidos esclarecidos por haver significantes e significados diferentes. É esta a união que provoca o intercâmbio de riqueza que importa para os povos.

Aplaudo o texto.

Valdevinoxis


Enviado por Tópico
Alberto da fonseca
Publicado: 11/04/2008 17:31  Atualizado: 11/04/2008 17:31
Membro de honra
Usuário desde: 01/12/2007
Localidade: Natural de Sacavém,residente em Les Vans sul da Ardéche França
Mensagens: 7080
 Re: Desacordo Ortográfico
Este teu texto tem toda a razão de ser.
Eu talvez, porque tenho ainda no meu espirito a escola que eu frequentei de 1938/1942, não sou de acordo coms estes acordos. Não querendo ser nacionalista, tenho para mim que a a mãe da língua portuguesa é o português. O Brasil tem o seu português, muito bem, se querem continuar assim que continuem mas não deve ser Portugal a se adaptar ao português do Brazil.
Posso ainda estar de acordo com algumas modificações, mas não todas, ex:
fato et facto. Se eu estou a falar com alguém e lhe digo fato, estou a falar de quê? De um facto ou de um fato que eu tenho no meu guarda- fato?
Uma coisa que me faz enorme confusão, é o seguinte: querem fazer rectificações ortográficas, mas é para se falar português ou como eu oiço os senhores politicos e jornalistas da TV constamtemente a aplicar palavras ou frazes em francês?
Devia-se começar por proíbir estes assassinatos da lingua de Camões.
Abraço
A. da fonseca


Enviado por Tópico
Carolina
Publicado: 11/04/2008 18:00  Atualizado: 11/04/2008 18:00
Membro de honra
Usuário desde: 04/07/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3422
 Re: Desacordo Ortográfico
Tens toda a razão...
Os nossos políticos andam como baratas tontas, acordo ortográfico, Tlebs(Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário)...que mais quererão esses supostos "donos" da Língua Portuguesa.
No meu entender deveriam centrar-se nos problemas reais do nosso país (desemprego, por exemplo)e deixar as coisas como estão.
Parecem doidos e não sabem o que fazer...

Sinceramente...




Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/04/2008 23:54  Atualizado: 11/04/2008 23:54
 Re: Desacordo Ortográfico
Seu texto fez grande sucesso aqui na biblioteca onde trabalho, rendeu um bom tempo de diálogo baseado nele.
Achei que ele merecia ser divulgado, por isso o enviei ao coordenador de letras e a outros professores aqui a faculdade.
Realmente é um texto para reflexão.
Parabéns professor


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/04/2008 00:37  Atualizado: 12/04/2008 15:29
 Re: Desacordo Ortográfico
Caro Al; tinha prometido a eu mesmo não dar pitaco no assunto, mas, diante do seu pedido via web, por uma questão de lisura; vou atende-lo, assim como solicitou-me no chat, o qual transcrevo-o:

"Amigo Silveira, dê-nos o seu olhar sobre o Acordo Ortográfico"

Vocês podem até não concordarem comigo, é que eu sou um citadino como a maioria de vocês, homem de rua, de viver misturado com o povo, disso eu gosto e entendo bem, o meu bla, bla, bla, eu levo do botequim, dos caras da sarjeta, das comunidades pobres para o ouvido dos engravatados, por isso; na época da dita(dura) e era, meu discurso sempre foi premiado com borrachada na cara e gritos de: “cala boca seu filho da puta”, gritos quase inaudíveis por mim de tantos "telefones" (tapas nos ouvidos ao mesmo tempos), então amigos, esse negócio ora discutido pra mim não passa de uma picuinha desnecessária, insuflada até talvez por um dos filhos diplomados dos que ordenavam as porradas, mas concordo em parte com algumas colocações feitas em alguns comentários, que não desejo e nem alterará o pensamento de quem o fez em nada se eu replicar. Não serão esses ou outros acordos uni bi ou trilaterais para unificações, modificações etc..., de quaisquer línguas que sejam, que vão me sensibilizar, não me interessa, continuarei falando e escutando a língua da rua, aquela que o povo vomita, seja lá de qual nação seja, acho isso uma falta do que fazer, uma palhaçada, ante a tantos outros problemas que o povo precisa para ter uma vida decente. Sempre eles, os bundões tecnocratas, quando não tem o que fazer ou querem esconder verdades mais cabeludas, dessas que cada um de nós somos capazes de relacionar em dezenas de linhas, um item ou todos, os que afligem os povos colonizados ou não, sem exceção. Eles sempre inventam alguma merda para que o povo se distraia. A mídia em conluio, tem sua parcela de culpa, porque muitas das vezes apóia, para poder vender o seu produto, e não posso nem dizer que estão errados, pois vivemos num capitalismo selvagem. É lamentável. Discuti-se o indiscutível, isso não leva a nada, esse negócio de Brasil colônia e fulanos ou sicranos colonizadores, passou, está tão longe, tão longe que não há porque a língua portuguesa ser falada à brasilesa, e vice versa. O erro foi nosso, em 1922 quando começou o período moderno caracterizado pela literatura modernista como: o nacionalismo, temas urbanos, da linguagem do povo, do humor, e da liberdade do uso das palavras, podíamos nessa época com escritores renomados como Manoel Bandeira, Mario de Andrade, Alcântara Machado e tantos outros grandes pensadores, modernizado a língua, eles poderiam ter acabado lá atrás com esse impasse tão desagradável para as duas partes. Hoje quem me pedir a opinião, eu responderei de pronto; fique Portugal com o português, e Brasil com o brasilês ou o tupi que afinal é a língua nativa, é isso, e, se uma ou outra nação quiser se modernizar como tem acontecido incontestavelmente no Brasil, que faça, não é isso que uni ou desuni povos, o importante é que se respeite a História, assim como cada país respeita sua região, e pronto, é um discurso prático e inteligente entre países irmãos. Fora disso, tudo mais é só pra sacaniar o que ta quieto. O meu clamor é: Povos respeitem-se!

(e perdoem-me os termos chulos, são inevitáveis quando falo na dita).