Porque teimas tu ó pensamento
em viajar pelo longe
que de mim se faz dor,
e recordar-me a linha do horizonte
dos meus encantamentos,
se eu, aqui, nesta nostalgia sentida,
que a cada dia me visita
não consigo mitigar?
Será que o fazes para me castigar
ou porque também tu, ó pensamento,
sentes o mesmo que eu,
e para não sofreres sozinho,
levas-me na tua canoa de saudades?
Se assim é, pensamento,
demo-nos as mãos,
vamos por aí, seguindo o teu desejo
revisitar lugares antes percorridos
e perfumados por acácias e mangas,
maresia e terra molhada,
sentir o calor da vida,
e deliciarmos os olhares nas belas cores
que nos são oferecidas
pela beleza da flora daquele paraíso!
Mas, se me visitas, ó pensamento,
para me torturar,
peço-te, de coração, que não o faças,
deixa que o tempo se perca no esquecimento,
pois a distância entre o longe e o aqui,
é um imenso mar que nos separa,
um tempo que se alterou,
e um sentir que se amotinou!
Traz-me outras memórias, ó pensamento,
ou então, simplesmente,
senta-te ao meu lado, quieto e silencioso,
e, assim, os dois juntos, contemplemos o presente,
pensemos no advir
sem esquecermos o passado.
José Carlos Moutinho
6/1/2020
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