Eu caminhava pela rua deserta
Sentia o vento tocar o meu rosto
Mas, não via ninguém naquela jornada
Nem vi os pássaros que voavam sob as nuvens.
Meus passos eram lentos
Pensamentos passavam a minha mente
E olhares não me incomodavam nem um pouco
Nem os sorrisos.
Tudo era tão falso
Tão hipócrita como a liberdade de um criminoso
No meu coração a lembrança
De um olhar agora desfeito como a neve sob a luz do sol.
Nem adianta chorar, pensei comigo mesmo,
Nem lamentar a falsa ilusão
Na qual deixei-me ser envolto
Em uma tarde qualquer.
Pode contar os meus passos
Eles não são trôpegos como sempre foram
Meus olhos não conseguem ver o horizonte
Que foi desfeito pela primavera que eu nem vi.
Ouço gritos tão distantes
Que parecem clamar pela minha liberdade
E eu nem percebo suas mãos acariciando meus cabelos
E ofuscando meus pensamentos turvos.
Lágrimas de uma despedida que nem aconteceu
Na profundidade de uma vida sem sentido
Foi o que restou de um amor que parecia existir
Mas, que não passava de fragmentos de uma ilusão.
Cale-se para sempre e tape os ouvidos
Feche os olhos e ouça apenas o silêncio
Deixe-se corroer pela dor do esquecimento
Porque isso é o melhor a ser feito nesta hora silenciosa.
Agora eu olho para a rua deserta outra vez
E não sei se estou sonhando
Tudo me parece tão estranho como a aurora ofuscada
De um dia triste de inverno.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense