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limpo

 
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na mira do fuzil o chão. o fora e o dentro lustroso, brilho. transparente a lente, a cruz que a segue. a luz. na solidão do cano, arriscado, nem pó. sem causa, espera, pausa. hábito de gatilho. um pombo verde esvoaça. esvoaçam os ramos finos das oliveiras que compõem a serigrafia, presos, contudo, pelas raízes. ao ar, onde tudo voa, anda e corre, há que ser leve. iludir a pedra, livre no arremesso. as Mulheres cheias de histórias e de dias. os dias cheios de Tudo. na carreira de tiro habita o fim. outro nome para recomeço. o muro baliza o muro do corpo, a sede da alma, do pensamento, penso invés. penso. hoje não é dia de sentença, não aqui. na guerra nada se limpa. a mira mira o chão.


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
Texto
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Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 16/12/2023 23:48  Atualizado: 16/12/2023 23:48
Membro de honra
Usuário desde: 27/10/2021
Localidade:
Mensagens: 642
 Re: limpo
Gostei da leitura, como sempre.
Boas festas, Rogério Beça.

Enviado por Tópico
Egéria
Publicado: 17/12/2023 19:49  Atualizado: 17/12/2023 19:49
Usuário desde: 28/09/2009
Localidade:
Mensagens: 947
 Re: limpo
Olá,
indescritível, de tão bom que é este poema, sem correntes...!!
Abraço

Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 18/12/2023 17:51  Atualizado: 18/12/2023 17:51
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5848
 Re: limpo/Rogério Beça
Bom seria se o limpo fosse porque guerra não houve, mas no caso, limpo seria porque já não havia vitimas para a mira do limpo fuzil? "hoje não é dia de sentença"... mas de expectativa na modorra.

Abraço, Rogério.

Maria