Poemas : 

Da Razão De Manoel de Barros

 
Nunca pensei que alguém pudesse
Esticar as linhas do horizonte
Ou que se subisse em árvores daria
Para pegar o vento ou uma cauda de cometa.

Também não sabia que formigas
Tinham braços que beijavam a Lua
Ou que um rio era uma serpente de cristal que circundava meu rancho. Sempre achei que era um riacho que sussurrava palavras para as pedras que sorriam para os peixes quando a água chorava.

Sempre achei que o fim do mundo
Era logo depois da lagoa que ficava no final da rua da minha casa e que "nunca mais" era apenas um eufemismo criado pelos astecas
Quando da aproximação com os descobridores espanhóis.

Sempre achei que o grito de um louco
Sempre era mais escuro do que o olhar sonoro de um surdo
E que o cheiro das pedras não se confundia com os vários tons do vermelho. Ou que a chuva de ontem pudesse molhar o futuro e o muro que servia de ponte entre mim e alguém e que servia, também, de morada para beija-flores abusarem das rosas virgens que brotavam na pele do silêncio.
Eu e meus enganos.

O poeta disse que abriu as pernas do amanhecer para que o Sol pudesse fecundar a Aurora para parir o dia
E que poesia é pura invenção, não precisa ter sentido. Precisa ser sentida e não precisa ser entendida ou ter vínculo nenhum com a verdade. Acho que o João-de-Barro e o Manoel tinham razão.





Gyl Ferrys

 
Autor
Gyl
Autor
 
Texto
Data
Leituras
586
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
4
1
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.