Era muito linda a cidade de S. Bem cuidada, limpa e bastante organizada. Não era à toa que a ela chegavam inúmeros turistas dos mais variados recantos do país e, até, do exterior. Havia bastantes praças, todas arborizadas e demasiadamente frequentada. Todos para corriam todos os dias, especialmente à tarde e à noite, quando o calor se fazia insuportável.
Apesar de bastante aprazível o lugar, a cidade não contava com a existên- cia de hotéis. Havia, em derredor do Centro, como chamavam, algumas pousa-das, todavia todas asseadas e concorridas.
Chegou numa determinada tarde à cidade, um jovem casal. Vieram conhecer o município e fazer uma reserva na mais famosa pousada que ali ha- via: a Pousada Requinte. Era ali que passariam a lua de mel.
- Boa tarde! – Cumprimentou Anderson, o noivo -.
- Boa tarde! – Respondeu D. Orquídea, proprietária do estabelecimento -.
- Meu nome é Anderson e esta é minha noiva, Salete. Somos da Capital. Estare-mos nos casando no próximo sábado, às 16 horas. Estamos aqui para fazer uma reserva, posto que será aqui na cidade de S onde vivenciaremos a lua de mel.
- Pois não! – Retrucou D. Orquídea – Com certeza, fizeram a melhor escolha. Nossa pousada é a melhor e a mais confortável da cidade. Obrigada pela prefe- rência.
- Ah – Disse Salete – Nós já passeamos muito pelos arredores e nos informamos
de tudo. Todos a quem indagamos sobre alojamentos, foram unânimes: indica-caram a Pousada Requinte para que nos hospedássemos.
- É porque o povo reconhece o quanto prezamos por nossos hóspedes, o quanto os tratamos bem. Sejam bem-vindos! – Finalizou D. Orquídea.
E preencheram as fichas de hospedagem e fizeram o pagamento adiantado de 5 diárias. Tudo ficara acertado. O casal saiu e ainda continuaram a passear por mais algum tempo. Depois, entraram no carro e retornaram à Capital.
Quem ficou um pouco nervosa com a presença dos noivos foi Nadege, filha de D. Orquídea. Nadege contava 22 anos e era filha única da dona da pousada, contudo era uma moça que havia em si problemas mentais. Ela era conhecida como “a doida”. E Nadege assistiu à entrevista de sua genitora com o casal que viria no próximo sábado ali hospedar-se. Ficou eufórica, porquanto não sabia o que era lua de mel e, agora, havia diante de si a possibilidade de uma vez por to- das de tirar isso a limpo. Mentalmente tudo planejou, não poderia perder esta magnífica chance que a vida lhe oferecia. “Agora ou nunca”, matutava, feliz.
Logo chegou o tão esperado sábado. Nadege olhava o tempo inteiro para o relógio, a ponto de D. Orquídea perceber uma certa ansiedade em si.
- Por que está tão nervosa, minha filha? – Interpelou sua mãe – Está esperando alguém?
- Oh! É claro que não, mainha. Por que me pergunta?
- Porque você está o tempo inteiro a olhar para o seu relógio como se estivesse a aguardar algum horário especial. Nunca a vi assim, filha.
- Ah, mainha, não é nada, você não sabe que sou “doida”?
- Pare com isso! – Repreendeu D. Orquídea – Já a proibi de prolatar esta palavra.
- Está bem, mainha, desculpe. Foi um lapso, não tornarei a falar esse termo.
- Assim espero!
E, assim, desligou-se de tudo em derredor. Esperou pacientemente a ho-
ra a fim de colocar em prática os seus planos. Ela ouvira bem: o casamento se- ria na Capital e às 16 horas. Como a cidade de S ficava a umas 2 horas de carro,
Nadege imaginou o seguinte: “Acredito que as festividades devam terminar aí em torno das 18 horas e deverão chegar aqui, no máximo, às 20 horas. Quando for 19,30h, eu entro no quarto onde eles ficarão hospedados e me escondo de- baixo da cama, então saberei, de uma vez por todas, o que é essa danada de lua de mel”.
Da maneira como planejou, executou. Às sete e meia da noite, Nadege se
dirigiu para os aposentos onde Anderson e Salete ficariam. Até ali, tudo estava dando certo, não poderia falhar estes seus planos. Aboletou-se embaixo da cama e aguardou, tranquilamente, e de olhos bem abertos.
Para uma “doida” arquitetar um plano desses, era necessário que não fosse assim tão “maluca”, haja vista que tudo aconteceu conforme previra. Anderson e Salete chegaram no horário aprazado e logo estavam no quarto, ansiosos, um pelo outro. Despiram-se totalmente e se jogaram sobre a cama, onde se derra- maram em carícias mil. Era um tremendo folguedo sobre o colchão, total reme- lexo... Nadege, debaixo da cama, tudo ouvia e ficava arrepiada, da cabeça aos pés. Só que, por mais que tentasse, Anderson não conseguia atingir o ponto cru- cial da questão e Salete já estava angustiada, suados ao extremo, ambos.
- Ah, Anderson, meu amor – Disse a noiva – bota isso de qualquer jeito, bota na doida mesmo...
Ao ouvir estas últimas palavras, Nadege se desesperou. Plenamente amas-sada e despenteada, saiu debaixo da cama e perturbada como era, retrucou:
- Oh, não! Sem essa... Em mim mesmo, não!
FIM
DE Ivan de Oliveira Melo