ÉBANO
Em minhas veias corre o sangue
do guerreiro de ébano que media a Savana
Disputando a sobrevivência
Com a fauna nobre da primeira Terra.
Em minha alma, o guerreiro acorrentado
obrigado a adubar o chão estrangeiro
com sangue e suor.
Sou filho destes homens diminuídos
pelo ódio e desprezo e que nunca se deixaram vencer.
Sou a continuidade mestiça.
Mistura imposta por circunstâncias, opressões e vivências,
que fez da nova terra o lugar da reconstrução.
Há luta ainda nos frutos libertos,
que buscam espaços, dignidade e vida.
O sangue do guerreiro antigo movimenta os rebentos.
Não haverá descanso enquanto as correntes enferrujadas
persistirem em ferir a pele escura com o preconceito
dos que se acham melhores.
A consciência não é só negra.
É parda, é cinza, é quase branca.
Em toda a mistura desse novo povo
O sangue do guerreiro de ébano da velha Savana africana
ainda mata um leão por dia. (Proteus).