SOLIDÃO:
Ah, amiga, a solidão é a distância que impomos entre nós e o outro.
Há distâncias que são centímetros. Outras são quilômetros.
Todas impostas por nós mesmos na leitura revivida e recriada do que a vida nos trouxe através das ações dos outros.
A solidão é o inimigo alimentado pela nossa dor.
Pela autoflagelação e baixa autoestima.
Se o outro ou o cotidiano nos machucou, a solidão é a consequência da eterna repetição da dor.
A ferida que não cicatriza porque arrancamos os pontos, descascamos os arranhões.
E lá vem a dor de novo.
E mesmo na multidão, tudo é um deserto.
E mesmo no barulho constante dos sons do mundo, tudo é um silêncio de lágrimas.
Tudo que dói é sólido como um granito.
Tudo que dói arrepia a alma com um frio polar.
Tudo que dói é a vontade de estar no não lugar.
No lugar nenhum da ausência de nós mesmos.
Mas, amiga, tudo é feito aqui dentro das nossas cabeças.
Está tudo aqui nesse caixa de pensar motivado pelas gotas de sangue que saltam do coração.
Não é o mundo ou o outro os culpados.
Eles foram em algum momento que passou.
Mas somos nós que os ressuscitamos todos os dias chamando a águia para comer o fígado renascido.
Somos o Prometeu de nós mesmos enfiando o dedo na ferida, sofrendo e adorando o sofrimento.
E nessa dor recriada e renascida já não sabemos se somos sós porque sofremos ou sofremos porque somos sós.
A solução?
A solução é sacudir a poeira, esquecer a dor fechando a caixa de Pandora.
Forçar um sorriso e sair para o mundo procurando os que consideramos amigos e as coisas de esquecer: filmes, músicas, poesias... Vida.
Ninguém merece o nosso sofrimento.
Muito menos nós. (Proteus).