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Trilogia: Desamparo (1/3)

 
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Sou, sozinho, em desamparo, sou assim qual um proscrito
Cheio das surdas vozes e a vida corre como rio impetuoso
Não tenho morada, sigo a vagar sem um refúgio a repousar
O cão ladra estridente, este não é meu lugar, é da história
Silenciei minha voz com um soluço aflitivo e estrangulado
Acordo nu, só, meio ao pesadelo das batalhas contra o mal
No abandono vivo, que me remete ao tempo que eu morria
Ora não posso mais sonhar que a vida, num zéfiro da sorte
Viesse, no âmago do dia, redefinir o depois, o além de tudo
Na ingênua noção deste poeta sonhador, atordoado e cego
Em meio à ilusória placidez, a solidão novamente se assoma
Aniquilando as plagas da esperança, a irmã das primaveras
Consulto os astros no firmamento, mas não acho respostas
Estão todos na mesma irracional, fúnebre e austera mudez
Não há um botão que, mágico, faça galhos secos em flores
Que faça do ar quente, brisa fresca e dos fantasmas, heróis
Não vejo nas auras as cores ideais, tão-só rumores remotos
Sinto que sou apenas uma alma solitária no aquário da vida
Um homem primitivo perdido entre tão pálidos crepúsculos
Que é um quase nada, alguém que restou carente de unção
E no grave aspecto da noite, em névoas densas e singulares
Que busca alcançar a inatingíveis e fúlgidos altares surreais
Finalmente, o dia anuncia que a luz já virá difusa e ingente
Hora de ser ardente e jovial e buscar a força numa crença
Que dias melhores chegaram para virar a vida inteiramente

O botão de rosa e suas pétalas gráceis e sedosas,
multicores se abrem alegres no ar como um ósculo mais breve.


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Autor
Sergius Dizioli
 
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