A chama do verão no outono
arrefece,
a rara visão do pavio
como a calma com que morre um rio,
cobre o escuro, cabe o mar numa prece.
O chão cai saturado, a terra em fadiga,
em desgraça,
o arado passa, a nada se obriga.
Na muda a semente ferve,
de quente.
O montanheiro lê onde o monte se estafa
e
para que se solte novo verbo,
roda
como moda, como média, contas dum colar,
que avança sem parar num terrível sem-cor.
Desde a sementeira à colheita,
à pergunta achega-se a resposta,
à procura de nova paragem nova,
perfeita.
Manda a regra que esta se quebre,
que no frio da pele gasta
basta o pousio.
E é quando revejo os teus olhos
que sei
desse fulgor.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.