“Um pedaço de memória”
No cimo da falésia
Eu me deliciava com tudo o que a vista alcançava
Um mar infinito de ondas quebranco em espuma
O Sol a brilhar reflectia nos salpicos das ondas
Lágrimas que eu não conseguia conter
Um sonho desfeito era isso que acabara de acontecer
Mas, afinal o que esparava eu ?!
A realidade tinha já mais de trinta anos
O pretérito esquecido no limbo da mente atordoada
De nada me adiantara, nem sequer o atropelamento
Podia ser a minha desculpa para uma segunda chance
Que mal tinha eu feito para tudo acontecer assim?
Berrava eu bem alto aos céus esperando a resposta
Que Deus me haveria de dar em forma de realidade
Mas, essa realidade doeu muito.
Embora, já habituada a crescer com as realidades da Vida
E das pessoas e, das minhas próprias necessidades
Eu ainda ambicionava que muito pudesse sonhar
E que a Vida me deixaria voltar a ser feliz
Foi quando, acordando desses pensamentos agre e doces
Eu me lembrei que não gostava nada de alturas
E que era hora de me ir abraçar aos grãos todos do areal
Matando as muitas saudades de cinco anos de ausência
A praia com o Mar, o Sol, as Nuvens, o Vento e
A minha predilecção em acariciar todas as pedrinhas da areia
Numa maré baixa em que a areia fica seca, é uma delicia, creiam
E, eu muito sofria na falta de rever esses elementos
Assim, eu me deixei estar a recuperar de tantas dores da realidade
Sendo eu já uma sexagenária,
compreendi que não me ficaria bem, fazer-me de tola
E sei perfeitamente o melhor que posso fazer por mim ...
Assim, com música, dançando com o vento na cara,
E, depois sentada na areia eu renasci por inteiro, ali mesmo, naquela querida praia!
Maria dos Reis Rodrigues
Guincho, 13 Agosto 2019
Eureka