Na minha carne
É na minha carne que eu te sinto,
nos sonhos inventados
por um Janeiro frio a dentro.
É na carne magoada,
pelas cicatrizes saradas
à força da saudade,
de te lembrar cravando teus dedos
no meu dorso,
sentindo teu sangue
pulando do teu hálito doce,
segredando esta paixão violenta, secreta,
nossa,
nas palavras cúmplices, enormes.
É na minha carne que eu te sinto,
brincando no teu peito
onde sempre me esqueço
embalado nos teus ais,
desejos,
amplexos de tudo o que nos damos.
É na minha carne que te sinto,
quando a paixão desventra nossos corpos
e os comete em gestos
inimputáveis,
enrodilhados
nos lençóis manchados
de tanto suor estafado.
É na minha carne,
que eu sinto a vontade
de escapar e te deixar dormir,
de esquecer esta dor,
e expurgar este cobarde sentido
de não te querer
e te desejar.
É na minha carne que eu sou
desconhecido,
quando te pressinto
e me deixo ficar,
é na tua carne que desminto,
a vontade
de ser eu.
Jorge