EMPATADOS (MANO A MANO)
Mergulhado em minha tristeza
hoje te recordo e vejo que foste
em minha pobre vida pária
somente uma boa mulher.
Tua presença de bacana
pôs calor em meu ninho,
foste boa, conseqüente.
Eu sei que me quiseste
como não quiseste a ninguém,
como não poderás querer.
Houve uma reviravolta,
quando tu, pobre vagabunda,
curtias a pobreza
numa casa de pensão.
Hoje és toda uma bacana,
as esmolas do otário
jogas na calçada,
como joga o gato mau
com o mísero ratão.
Hoje tens a cuca cheia
de infelizes ilusões,
te enganaram os otários,
as amigas, o espertalhão.
A farra entre os magnatas
com suas loucas tentações
onde triunfam e claudicam
sonhadoras pretensões
te entraram muito profundamente
no teu pobre coração.
Nada devo agradecer-te,
empatados ficamos;
não me importa o que fizeste,
o que fazes nem o que farás.
Os favores recebidos
creio já tê-los pagado
e se alguma dívida pequena
sem querer eu me esqueci,
poem na conta deste otário
que tens, coloque-a.
Entretanto, que teus triunfos
pobres triunfos passageiros,
sejam uma grande pilha
de riquezas e prazer.
Que o bacana que te sustenta
tenha bens duradouros,
que te sustente nas paradas
com coisas boas,
e que digam os rapazes:
és uma boa mulher.
E amanhã quando sejas
descolado móvel velho
e não tenhas esperanças
em teu pobre coração;
se precisares uma ajuda,
se te fizer falta um conselho,
lembre-se deste amigo
que vai tirar a própria pele
pra ajudar-te no que possa,
quando chegue a ocasião.
Letra de Celedonio Esteban Flores - 1918
Música de Carlos Gardel e José Razzano - Gravada em 1923 por Carlos Gardel. versão - eu
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