outrora escura
noturna
hoje
se faz branca
suas casas a cercarem
seus carros a passarem
suas pessoas
suas calçadas
tudo em sua parte
revelação
fumaça nas chaminés
caixas de correio
cercas e esquinas
cruzamentos
nesse tranquilar caiado
das coisas da rua
um esquilo atravessa
diante do meu carro
de um lado a outro
de uma árvore a outra
de calçada a calçada
e eu o vejo em cada salto
sobre o gelo
compactado no asfalto
um risco fino
de minúsculas patas
no caminho branco
a rua ora escura se empalidece
desce a si a brancura
o dia se faz mais claro
por um momento
tudo aquece o dia
e se esquece
muita coisa guardou-se do frio
a rua se mostra sem aparecer
se não a abrisse nesse dia
e não a visse nessa manhã
escrito poema não se faria
não se daria ao papel
vívida lembrança
de muito longe
as horas no dia
ficaram no dia
a rua no bairro
as árvores na rua
o ar nos meus pulmões
as palavras que escrevo
partes na rua
partem da rua
atravesso e sigo
e na rua deixo o rastro
do que atravessou de mim