Abro os braços
sinto o vazio entre eles,
talvez o mundo esteja, também, vazio,
congelaram-se os sentimentos,
calaram-se as vozes da harmonia...
Relembro o tempo,
um outro tempo, não muito distante,
em que, ao abrirem-se os braços
facilmente encontravam outros braços,
que se fundiam
num sentido e longo abraço,
e quando os sentimentos eram exaltados
com a facilidade da sinceridade,
e as vozes jamais se calavam,
gritando bem alto que a amizade,
era verdadeira e eterna
mas que hoje se tornou uma raridade!
Resta-me baixar os meus braços cansados
pela ausência de outros,
eventualmente, também, cansados,
porque a sã convivência
deixou de ter a vitalidade de outrora!
O cansaço generalizou-se
neste mundo, tão cansado de verdade,
cedeu lugar a outras coisas,
a que, os sentimentos
e a dignidade são alheios!
Estamos (quase) todos,
hipocritamente, cansados!
José Carlos Moutinho
29/9/19
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