Depois da chuva tão desejada a vida segue. O mundo continua. Todas as coisas no seu devido lugar. Deposito meu único peso ao chão: Meu corpo cansado. Ouço os risos dos caminhantes para os quais meu cansaço é invisível. Não tenho bagagem nem sonhos. Tudo voou nas asas do tempo que implacável passou.
Uma retrospectiva a muito adiada se impõe sem admitir protelação. Nesse mundo vazio e incolor em que habito não existe razão para não atender a imposição.
Me encolho e observo o mundo dos outros caminhantes se moverem. Posso enxergar as cores que compõem seus mundos. Vez ou outra alguém vem dividir suas vitorias, seus cantos, seus risos. Eu mantenho a armadura bem firme. Porque não desejo descolorir o mundo de ninguém. Ciente que isso atrapalharia sua caminhada eu aplaudo e sinceramente me sinto feliz. Nesse mundo em que vivo não gostaria de receber ninguém. Me pergunto quanto tempo ainda vou insistir em admitir que não tenho destino.
Sobre esse mundo não existe um sorriso a esperar quando nenhuma porta se abrir. Nessa longa caminhada tudo foi sendo doado pelo caminho. As energias foram usadas para construir outros sonhos. Colocar em bocas risos e cânticos.
Quando se torna portador de bagagens somos forçados a abandonar os sonhos. Até o dia que são entregues a vida. E tudo que resta é sentir o gosto salgado da ingratidão e colocar a armadura da aceitação.
Tudo o que se almeja é o esquecimento em um sono eterno. Talvez seja esse o destino...
Su Aquino
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