OI, AMIGO!
Adquiri, com o passar dos anos, o hábito de tratar os outros por amigo (a), mesmo que não o sejam (ainda). É uma forma positiva, penso eu, se iniciar uma relação antes mesmo de saber o nome da pessoa com quem falo. Muitos não gostam e me argumentam que mal nos conhecíamos. Eu, de meu lado, respondia sempre com um velho arrazoado:
-- "Sempre que conhecemos uma pessoa há três possibilidades -- discorria entre tolerante e persuasivo. A primeira, a pessoa que acabei de conhecer gostar de mim e se tornar um amigo. Gosto de acreditar que se ambos se aproximam de coração aberto, fatalmente se tornaram amistosas...
A segunda, o outro vem e não gosta de mim, tornando-se inimiga. Isso é raro e, dentro dos limites da civilidade, tolerável. Nem eu gosto de mim o tempo todo, quanto mais quem pouco ou nada sabe de mim?! Mais do que compreensivo não gostar de mim, mas, se a pessoa for mesmo nefasta, há-de se afastar ao ver que sou pobre e humilde demais para suas ruindades. O mundo é grande o bastante para nos evitarmos mutuamente.
A terceira, fica indiferente. Se não fede nem cheira, mantém-se como conhecido. Repare -se que este será sempre um estágio provisório de relacionamento humano. Todo conhecido é um amigo ou um inimigo em potencial. Se é raro ter inimigos, ainda mais raro é ter inimigos que já foram amigos... A amizade pode esfriar com o tempo; as pessoas se distanciam e se veem como estranhos... Contudo, bastará a mesma boa vontade inicial e o distante volta a ser próximo tanto quanto o conhecido amigo do passado torna a ter valência para quando se necessita.
Quando termino a historinha, se outro permanecesse à escuta era sinal de que tendia a se identificar com a primeira probabilidade. Caso contrário, eu nem me importava. Arrisco a dizer que as pessoas querem ser amigas de quaisquer pessoas que quiserem ser suas amigas. Dá muito mais trabalho cultivar inimizades que amizades, visto que, para mim, o ódio é quase uma desnatureza.
Para o optimista, o conhecido (e mesmo o inimigo...) são amigos em potencial. E, no que diz respeito aos homens (e mulheres, obviamente) eu escolhi ser um optimista.
É isso, amigo!
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.