*Cotidiano
Silêncio nas madrugadas mudas,
só a voz do vento bate a janela.
A chuva tímida rabisca a lágrima,
lágrima triste que a mim se anela.
Voo na imensidão do pensamento
sem empecilho adentro tua alma
vazia, eu vi no olhar por telepatia
a melancolia, sina que me acalma.
Está aí no templo dos teus ventos
Regando a sintonia no cotidiano,
seria só ventura, mas os teus rebentos
ocultam as tormentas, vem o minuano.
Vento que varre, mas inda não limpa
a solidão que teu suor imprime.
Quisera fazer de ti à ressonância
das ondas sonoras partícula sublime.
Filtrar em cada emoção o teu pulsar
colando o ouvido no teu peito,
decifrar horas e minutos do oculto
em cada pulsação vivendo o deleito
dos dias, dos segundos, dos encantos,
que por aventura tiveste na passagem
dos anos peregrinos, dos desencantos,
sem mim, escondidos na bagagem.
Retorno à madrugada dos silêncios,
o sonho sucumbiu sem teu olhar.
Em cada despertar do meu cotidiano
Esta angústia louca em te ocultar...
Sonia Nogueira
Do livro: Silêncio que Fala