por vezes ando à deriva sem hora de chegar
olhando o vidro do meu desespero
ouço teus gritos como se meus fossem
para não ouvir, agarro num caco
corto o meu cabelo fundo e enrodilhado
como quem corta o seu mal pela raiz
por vezes olho a multidão que me alerta
tão estranha para mim, eu nunca ouço o que me diz,
longe estão meus olhos de pedra
minha pele nada enxerga, nessa absurda direcção,
onde só me situo quando estou na escuridão
até o mar em mim é limitado, por não caber nele junto a ti,
é que, meu sangue está puro doce e comestível
para teus lábios secos de sede e quase sem vida
à espera da mordida ritual
num momento sem perdão, meu erro te deixa acoitado na oportunidade,
oh, será a tua hora, o tempo certo
de jorrar as tuas dores no meu vestido branco
mas, talvez não saibas, eu sinto mais essa dor que minha própria carne
é esse lance, onde o terror e o amor se enforcam mutuamente
olho do alto esses sentimentos de onde caio no mar concreto e contaminado do desespero dessa espera
que me ataca como tu: barão que de ti sai
duplo personagem que te devora
depois de abocanhar minha pureza