Ler, quando não é obrigatório, é uma actividade cheia de implicações e de significados.
O que me leva a ler, não qualquer coisa, mas o que leio, pode ter as respostas mais surpreendentes sobre quem eu sou através do que sei, penso, desejo, quero.
Este conhecimento pode (ou não) interessar a mais ninguém, nem à polícia, nem aos vendilhões, nem aos crocodilos, mas pode ser de suma importância para mim. Se eu reflectir sobre isto, só tenho a ganhar (dinheiro não é tudo).
Escrever...Ah, escrever, "falar sem ser interrompido". Explorar, sem limites senão os próprios, tudo e mais alguma coisa, ser deus...
O maior desafio intelectual, político, ético, social...
Sentir-se desafiado, mas não como o touro, que "estupidamente" se deixa cegar pela cor, sendo toureado e farpado até à exaustão, para depois ser assassinado na arena com um gesto de desprezo do matador, cobarde, mas que simboliza o gozo humano em sacrificar...A vida é feita de sacrifícios (ao sagrado). Não há outra possibilidade. Escolher, a todo o momento, é sacrificar. Não se pode ter tudo...Escrever é sacrificar imensas coisas, imenso tempo, imenso...Escrever é sacrificar para não ser sacrificado e, só por isso, vale todo o sacrifício.
Não no sentido de penitência, ditada pelo confessor, cinco padre-nossos e três avé-marias, como condição de perdão dos teus pecados, tipo "sacrifica-te e ficas perdoado/desonerado", ou como quando vais ao psiquiatra, ou à farmácia, ou à igreja, ou à caixa das esmolas... e largas o dinheiro ao santo em que acreditas...Ou fazes aquela viagem expiatória... ao santuário...Como se o preço te desonerasse de tudo o mais, incluindo a purificação em que acreditas, como se tudo fosse uma questão de preço (sacrifício) a pagar...
Mas no sentido de teres de escolher (gastar o dinheiro/tempo que tens) entre uma coisa e outra, quando ambas são importantes para ti, mas só podes comprar/ter uma delas. E teres de escolher sem teres qualquer certeza ou garantia de essa ser a melhor.