Tudo tão nefasto, tão profundo
Tão silencioso
Como o oceano a perder de vista
Tão trágico
Na alegria do cego perdido
Tudo escuro, tão surreal
Como o pássaro que voa na alvorada
De uma solidão qualquer
Tudo tão estranho, tão assustador
Como a estrela vermelha de uma bandeira
Que não tremula no vento leste
Daquela tristeza intrínseca
Tudo tão caótico, tão sério
Como o marinheiro olhando o imenso vazio
Do qual está prestes a desbravar
Sem saber se um dia retornará
Tudo tão alegre, tão feliz
Como o passear de um ancião
Ante a correria de uma criança
Em uma praça qualquer
Tudo tão encantador, tão fugaz
Como o sorriso da donzela
Que não descobriu o amor
E nem por ele foi amaldiçoado
Tudo tão perfeito, tão certo
Como a brisa da manhã
Depois de uma longa noite de agonia
Do jovem solitário
Tudo tão apaixonado, tão louco
Como o lobo na estepe
Espreitando a presa ao longe
Sem saber que está sendo vigiado
Tudo é tão sem noção na vida
Sem sentido algum
Que apago de minha memória
Tudo aquilo que me fez sofrer
Tudo faz sentido
Quando olhamos no espelho
E não conseguimos enxergar o horizonte
Que nunca, em tempo algum, existiu.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense