Perguntei um belo e certo dia à poesia
se quem faz um poema é realmente poeta,
a poesia respondeu, com alguma azia,
que um só poema não é coisa concreta
Quis eu saber mais sobre este assunto
mas a poesia estava muito renitente,
voltou a dizer-me: poema não é presunto
que se come uma vez e fica-se contente
Fiquei ainda mais confuso com tal resposta,
e, claro, demonstrei até bastante desagrado
mas para que a poesia ficasse bem-disposta
insisti: com muitos poemas estou descansado?
E a poesia soberana, senhora do seu nariz,
e até, com arrogância, respondeu-me assim:
é poeta, pois, quem porventura tenha cariz
não é a erva daninha que faz um belo jardim!
José Carlos Moutinho
5/8/19