Na rua onde eu cresci
Há um silêncio que se chama saudade,
Que nos bate de frente
Como um vento de Inverno
Que nos arrepia as memórias do tempo que não há.
Dos carros que passavam
Das pessoas que riam
Das pessoas que existiam
E que do café que já não existe;
Vi gente partir
Vi gente chegar
Vi gente sorrir
Mas também vi gente a chorar.
E também eu aí choro ao querer voltar
Ao tempo que eu já não tenho
E não sabia que o tinha,
Limitado, mas tinha,
Todo o tempo do mundo
Quando não sabes que o tens.
Sinto falta da rua onde cresci
Do café,
Do senhor do barracão
Do velho que não falava
Mas que olhava como ninguém…
E de ti.
Sinto falta de ti;
E da carrinha vermelha que chegava
E tu voltavas…
Em criança na rua onde cresci,
Eu tinha esperanças que não sabia que tinha,
Hoje cresci, e quando volto à rua onde cresci
Trago a minha camisola de saudade
E o meu já rosto maturo.
Sei como vou caminhar por mim
Porque me ensinaste
Na estrada onde encontrei os meus pés.