Tenho a tua foto no teclado do portátil. Estou sentada, ou semi deitada ou semi sentada, na tua rede. Bolas. E cada carro que oiço a chegar me faz olhar na sua direcção para ver se és tu que estás a chegar. Podia ser tudo tão simples como sentir falta e depois estar-se junto. Sentir a falta porque sim. Sem procurar outra resposta que não fosse essa, a mais inocente e mais simples que se pode dar. Não estás perto do coração e essa é a ausência que mais dói. Porque parece que deixas de existir. Está tudo na minha cabeça, não é? Para ti parece que está tudo bem, e há-de estar, parece que eu é que sou a complicada, como sempre fui. Não posso aproveitar o momento por muito que diga que é isso que quero fazer. Não estou feliz, já não estou feliz ou só estou feliz de vez em quando. A Manuela Azevedo, dos Clã, diz que “Feliz a 100% só mesmo um palhaço feliz”. Não quero ser um palhaço feliz mas também não queria fazer o que faço mil vezes comigo, ponho-me para baixo e abato-me como um animal doente. Tu és maravilhoso para mim mas eu não o consigo ver. Vejo um pouco, espreito por um buraquinho da gaiola onde me meti e vejo o brilho imenso que tens. Mas só um bocadinho. E mesmo assim forço-me a acreditar, logo de seguida, que não podes ser assim. Às vezes consigo ver que és todo brilhante e depois vem o outro problema: deixo-me ir e às vezes não estás lá. Bolas. Em que ficamos? Porque é tão difícil acreditar, porque é que é tão difícil a entrega, pelo menos nos momentos em que me permites que me entregue.... Penso demais? Desculpa. Agora, juro que não vou pensar, só vou escrever: gosto de ti, gosto mesmo muito de ti. Gostava de me sentir mais perto de ti, gostava de me conseguir entregar sem pensar que podes ir embora no minuto a seguir. Dizes-me que não vais? Podes dizer-me que não vais? Estou sem saber o que sou, respondo como um autómato ao que o mundo à minha volta me vai exigindo e não sou capaz de mais. Não sei que se passou com a consciência que costumava ter da minha vida, parece que estou numa terra desconhecida há meses, não me habituei a ela nem a estas pessoas que se vão cruzando e interagindo comigo, como se não bastasse parece que estou num sitio do outro lado do mundo a sofrer com o jet lag e portanto durmo mal, ou não durmo, e passo mal acordada o tempo em que devia estar bem desperta. Quando é que eu volto para casa? Onde se apanha o avião para voltar ao meu cantinho seguro? Qualquer dia fujo daqui. Com lágrimas a lavarem-me a cara, mas qualquer dia não vou estar aqui.
6 Abril 2008
Shepherd Moon