Um véu de aljôfar pinta a grama.
Prelúdio do dia que descortina
Com os dedos rosados da menina
Aurora que deus Apolo tanto ama.
O carros do Sol no azul do céu arriba
Com cavalos com ventas em chama
Acesa, impacientes, ninguém domina,
Deixando sanguíneas as raias do dia.
Vem o vento veloz e numa sutil malícia
Beija as flores, levanta saias e corre
Pelas cordilheiras, pelos montes, colinas
E, num redemoinho, entontece e morre.
Ondas volumosas beijam os pés das praias.
Por vezes se chocam com rígidos rochedos.
Uma garça branca dá meia-volta e se espraia
Nas margens de um lago cercado pelo arvoredo.
Grasnam gansos, pipilam os pequenos pássaros
Presos nos emaranhados aconchegantes dos ninhos
Na espera ansiosa pelo alimento proteico e nutritivo
Enquanto uma serpente se arrasta pelo pó do alabastro...
Tudo é lindo, divino e maravilhoso dentro desta poesia.
Só que não.
Dentro do meu coração
Uma lâmina muito fina
E afiada, feito uma navalha,
Me mata e me amofina
Todos os dias da minha vida
Sempre que lembro dos olhos,
Daqueles olhos de cor azulina
De uma mulher-moça-menina
Que foi fazer morada noutra freguesia
Deixando-me apenas a vontade
Na liberdade daquelas linhas que eu lia...
Gyl Ferrys