logo pela manhã
descaradamente
fumamos um olhando o senna
(duvidei que as águas corressem para o mar)
não dizíamos nada
à falta do que fazer
eu apenas assobiava a Internacional
como você me ensinou
à tarde tirei valéry da gaveta
e prometi não me matar nunca mais:
"Et vous, grande âme, espérez un songe"
E você, grande alma espera algum sonho...
Tropeço num francês macarrônico...
à noite fizemos amor
tive um gozo rápido, com gosto de despedida
no dia seguinte eu embarcava de volta para o brasil
beijaria os camaradas todos
sabíamos a cor da anistia
e eu teria a honra de cantá-lo em posição de sentido
sem o jugo dos militares
sim,
eu também levava comigo um filho na barriga,
na mochila sartre
que você me apresentou
ia me esquecendo uma coisa:
abortei nosso filho
por ele chorei e vomitei um pouco
sabia que não nos veríamos nunca mais
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annabárbara
Júlio Saraiva