Poemas : 

do caderno de annabárbara

 
logo pela manhã

descaradamente

fumamos um olhando o senna

(duvidei que as águas corressem para o mar)

não dizíamos nada

à falta do que fazer

eu apenas assobiava a Internacional

como você me ensinou

à tarde tirei valéry da gaveta

e prometi não me matar nunca mais:

"Et vous, grande âme, espérez un songe"

E você, grande alma espera algum sonho...

Tropeço num francês macarrônico...

à noite fizemos amor

tive um gozo rápido, com gosto de despedida

no dia seguinte eu embarcava de volta para o brasil

beijaria os camaradas todos

sabíamos a cor da anistia

e eu teria a honra de cantá-lo em posição de sentido

sem o jugo dos militares

sim,

eu também levava comigo um filho na barriga,

na mochila sartre

que você me apresentou

ia me esquecendo uma coisa:

abortei nosso filho

por ele chorei e vomitei um pouco

sabia que não nos veríamos nunca mais

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annabárbara


Júlio Saraiva

 
Autor
Julio Saraiva
 
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