O que quer que se divida
será sempre em sombra e luz,
par oposto que nos conduz
e dá a profundidade à vida.
Se, por vezes, é ela que escolhe,
outras somos nós que escolhemos
com estes olhos com que vemos,
onde quer qu’esse olhar olhe.
Entre a cegueira ou o traço claro,
em que só um dos dois impera,
perde-se o lugar, o tempo, a era,
o apoio, o eterno amparo.
No limite superior da claridade
o escuro do mais escuro espreita.
Um verso sem frente que se deita,
que nos incita, que me invade.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.