As horas passavam monótonas
e os ventos assobiavam,
os anseios esmoreciam-se
no tempo que agonizava,
as águas dos rios indiferentes corriam
o mar aguardava-as desinteressado,
o sol, rindo olhava a terra suada,
as pessoas ziguezagueavam como autómatos
vagueando em desvario,
as rosas ressequiam
e as pétalas faziam-se tapete
no jardim envergonhado,
as árvores fechavam os braços em desalento
e as aves calavam a tristeza,
as gaivotas deixaram de grasnar
e de voar
tornaram-se transeuntes pelas ruas
quase vazias,
só os ventos, quase em agonia,
continuavam a silvar
as águas dos rios a correr para o mar…
seria o Apocalipse?
Talvez um sonho premonitório,
francamente nada sei
além das palavras
que aqui deixo em silêncio
clamando por reflexão
José Carlos Moutinho
29/5/19