Poemas : 

Os Sonhos de José

 
José, Maria e suas duas filhas, depois de dias de jornada, vindos do mais longínquo recanto nordestino, pararam defronte a uma majestosa padaria paulista. Era uma padaria requintada, com a fachada extraordinária em mármore carrara negro e granito, toda ornamentada do mais alvo e fino alabastro. Até a calçada da rua era de pedra nobre. Três eram os seguranças que estavam na porta: um estava a paisana, outro estava fardado e o terceiro vestia um terno escuro e usava um óculos também escuro. Na vitrine de cristal encontrava-se as mais deliciosas guloseimas. Mas o que mais atraía a clientela eram os sonhos. Tinham eles de todas as formas e tamanhos; Todos corados, recheados de mel e polvilhados pelo mais refinado açúcar. José, Maria e as duas filhas ficaram do lado de fora admirando os sonhos açucarados que ficavam na vitrine, lá em cima.

De repente parou uma limosine na porta. Desceram Miss Charlote Rotchild com as filhas, genros, netos e netas para degustarem alguns sonhos. José estranhou a fisionomia de um dos seguranças que sorria e que se desfazia em cordialidade e gentilezas com a senhora e seu séquito, bem diferente do cenho cerrado e da cara de poucos amigos que fizera quando chegaram José e a família.

José e a família ficaram do lado de fora assistindo a Miss Rotchild & Família devorando os sonhos na padaria. José disse à Maria que um dia eles chegariam até a vitrine da cristaleira se houvesse economia na renda adquirida catando latinhas vazias de cerveja e refrigerante. Maria nada dizia. Apenas sorria.

Após assistir ao banquete promovido pela senhora Rotchild & Família, José e a sua família partiram pela vida, com as cabeças povoadas de sonhos, porém com as barrigas vazias.


Gyl Ferrys

 
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