Enviado por | Tópico |
---|---|
Carlos Ricardo | Publicado: 10/05/2019 12:18 Atualizado: 10/05/2019 12:26 |
Colaborador
Usuário desde: 28/12/2007
Localidade: Penafiel
Mensagens: 1801
|
Re: Era de madrugada quando ma deste
É um poema carregado do enigma da saudade ser casada com a tristeza do mesmo modo que a vida é casada com a morte, numa relação alegre porque erótica, triste, porque de combustão inexorável de impossíveis que não nos deixam em paz.
A expressão matar saudades não é menos difícil de entender mas, como tudo o que é vivo, as saudades morrem e, com toda a impunidade, pode-se matá-las. Já matei muitas saudades, sem querer. |
Enviado por | Tópico |
---|---|
Margô_T | Publicado: 27/05/2020 09:20 Atualizado: 27/05/2020 09:20 |
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
|
Re: Era de madrugada quando ma deste
Gosto particularmente do ritmo-embalo deste poema: um ritmo que flui e que vai trazendo as memórias-saudades como vagas, sendo que as próprias estrofes se assemelham a essas vagas pelo seu grafismo curto e variado e, também, pelo que contam.
Destaco este trecho: “das rochas quando fui vaga, da chuva quando fui deserto,” que sobressai pelas imagens poéticas que provoca. Como vaga, embatemos nas rochas e essas rochas fazem-nos vibrar de um modo diferente porque nos contrariam o movimento inicial, porque nos amortecem. Também as pessoas com que lidamos nos levam a alterar o nosso próprio ritmo, a cedermos parte da nossa Natureza ou, até, a obrigar-nos a uma (nova) forma de afirmação, como um rebentar de uma onda. Já a imagem do deserto é mais expectável mas, ainda assim, bela. Desejamos a chuva quando a água nos falta, quando nos sentimos ressequidos, quando a fluidez e continuidade das coisas dá lugar a uma aparente pasmaceira desértica, onde tudo se mantém mais ou menos igual. Porque é no fluir que nos alteramos, e porque é no fluir que a vida se tece de fase em fase. A estagnação está mais próxima da morte do que da vida. Gosto, também, desta sequência variada (e do seu vaga-ritmo): “Lembro-lhes o gosto, a sombra, o gesto, o grito,” Bjs |