O frio austral revisita o poema perdido na tarde à beira mar E o poeta eterniza a palavra lançada sobre a calma do papel Que auscultou dos lábios da aragem em sua tristeza silenciosa Grito teu nome talhado em minha pele como antiga cicatriz Para te dizer da imensa mudança a qual ainda não acreditas Carrego secretos sonhos infantis e navegares intermináveis Trago sons de flauta e perfume de flores à procura do gesto Que possa afastar os fantasmas febris e secar tuas lágrimas Pois jamais se restabelecerá o abandono, o vazio da solidão Para que só o verbo amar, presente e futuro seja conjugado Escuta meu coração como fosse a última badalada da tarde Encontra-me onde a paixão se recolhe, deita no meu ombro E eu te pronuncio as sonoras sílabas do amor entre a bruma Para que me escales agreste tatuando marcas em meu peito E quando amanhecer reste um tanto de ti além deste desejo Pois terás partido com as estrelas que se vão ao fim da noite Nos meus ouvidos ainda ecoam teus gemidos entre os lençóis Deixe-me um último sorriso nesta madrugada que emerge Deixe-me mais um doce suspiro antes que tenhas que partir Da janela nos dias distantes em vão choraremos sob o gris Volto ao silêncio antes de acordarem dolorosos fantasmas Nada existe do outro lado mar a não ser o que sonhamos
Tocava essa música, estávamos sentados num banco de praia, havíamos nos encontrado depois de 10 anos. Era como um sonho. Ela disse: diga uma palavra e eu nunca mais vou embora. Eu disse: Te amo, mas não posso te pedir isso. Ela se foi.