Poemas : 

JANELAS PRO TEMPO

 

Como sempre, amanheço e abro as janelas pro tempo.
Um perfume apressado invade meu quarto.
Ergo o olhar e avisto o céu.
Nuvens brancas de algodão paradas olhando pra mim.
Já não sinto aquela beleza da primavera e nem o sol escaldante do verão.
Acenando p'ra mim rosas vermelhas, um pouco murchas, me dizem adeus.
Amanhecemos e anoitecemos juntas por um bom tempo.
Borboletas brancas disputam lugar na verde ramagem do muro.
Lá ao longe um galo canta e uma ou outra galinha anuncia que "botou"....
Refletido no espelho do ar, sinto o outono chegar...
Folhas se espalham no chão.
Meu coração já meio recolhido, como as plantas, já pressente a friagem do inverno.
Um gato sonolento e de rabo enrroscado cochila bem ali.
E eu paro e penso.
Tudo muda. Se transforma.
Cede lugar...
É nessa simplicidade do outono que me reciclo.
Não sem certa dorzinha,
De quem se recolhe quando mais queria era estar por ai...Livre, leve e solta.
No outono, sinto minha alma preparando seu casulo, onde vai entrar e por um bom tempo, meio que adormecida,
Ficar. Talvez nem vai sonhar.
Vou tecendo meus dias e noites junto àqueles que tem o dom de esperar...
Que após as mudanças e inverno da vida
uma nova primavera florescerá.


Vera Salviano

 
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verasalviano
 
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