Nas páginas do silêncio eram inscritas trovoadas
carregadas de vento, de uivos, de piares
e pios Homens,
fartos de olhares mudos.
Nas páginas do silêncio,
o verbo agrilhoava-se à acção, adjetivava o tempo,
quedo e preso,
e as horas eram leves incertezas.
Nas páginas do silêncio dobravam-se as memórias,
reclusas e moldadas, como barro,
e os lugares
eram onde os segundos ainda esperavam.
Nas páginas do silêncio pregava-se a igualdade,
o mesmo rugido não ouvido
atento a cada rosto,
e por todos multiplicado e dividido.
Nas páginas do silêncio cheirava a começos
e o perfume
selava as narinas de monstros,
como nos primeiros dias de escola.
Nas páginas do silêncio mora o descanso
prestes a terminar.
Para dar voz
ao poema.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
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