Para eu conseguir me achar
eu próprio, fui aquilo que perdi.
Abençoado com uma faca
de dois gumes
que não pode ser manuseada
por qualquer um, escolhido a dedo
por Virgílio
tenho essa benção
que ao mesmo tempo
é minha perdição.
Doce melancolia que ilumina
meus dias, sempre fechado
com a defesa em dia,
então sem novos amigos.
Solitário, é que não sou
de confiar em qualquer um.
Ou qualquer uma. Não sei.
Sou homem e propenso
aos feitiços de minha própria
carne estou.
Eu e minha consciência nebulosa
me colocando o mais fora possível,
quando entro, me afogo.
Eu e minha consciência nebulosa
querendo um fim
desejando dormir todo o dia
me afogando na escuridão
confortável do sono.
Eu e minha consciência nebulosa
observando uma égua presa
em sua viseira,
quando a mesma é afetada
uma tempestade em um copo de água,
acontece.
Eu e minha consciência nebulosa
e para dizer a verdade
queria me drogar. Me dopar
e assim viver.
A igreja para a égua
é meu cigarro. E seu deus
é seu câncer. É meu câncer.
Os dois são uma verdadeira doença.
observo os delírios a três passos
de distância,
retiro minha alma da reta
desassocio qualquer ligação.
Esse é meu livramento
não me deixo devorar
por trivialidades
e aos poucos me vejo
de volta a superfície.
Uma nova era. Ciclos diferentes
de diferentes luas.
Uma pausa para o psicológico.
Segunda feira. Todos em suas funções.
Eu e meus amigos. Atoas.
Fumando uma boa guimba.
Fazendo barras e lutando.
Apenas socos na região
da barriga e peito.
Meu universo não
me deixa descansar
mas estou nem aí.
Construo meu futuro
a minha maneira
e tudo que eu quero
é meu tempo e minha mente intactos.
Ando pela tempestade
pensando em desistir
focado: algum momento desistir.
Não chegue até os 80,
para que viver isso tudo?
Ando pela tempestade
nadando em mares
que me sufocam
e para dizer a verdade
me dopo para me sentir
melhor.
Estou trapaceando
então fui rotulado a ovelha negra,
vulgo decepção da família.