Tinha onze anos e foi a primeira vez que vi o Mar.
Fomos a uma pescaria na serra perto de Ilha Bela e na volta, cumpriu-se a promessa de meu pai.
O tão sonhado encontro.
Foi fascinante, inesquecível.
Minha primeira impressão, o cheiro, nunca ainda sentido!
A segunda, a imensidão!
Era um dia nublado, no fim do verão e já pelo meio da tarde, a praia estava quase deserta. Eu tirei o tênis desci do carro e corri experimentando pela primeira vez a sensação de pisar naquela areia.
Cheguei bem perto e ficamos nos olhando, quietos, tentando nos reconhecer.
Depois me aproximei lentamente e deixei as ondas tocarem meus pés.
Fiquei por mais um tempo, contemplando aquele barulho de imensidão, de braveza.
Parecia que conversávamos.
Ele me dizia:
_ Demoraste tanto!
E eu:
_ Por que és tão arredio?
Já faz tanto tempo... Mas nossa amizade perdura.
Quando me lembro do Mar, não penso em dias radiantes de sol e nem em praias entulhadas de gente bronzeada.
Lembro-me do que ficou em mim naquele dia.
Lembro-me do nosso primeiro encontro.
Dou-lhe o direito de ser somente o Mar de ser rebelde, audaz, de insistir sobre as rochas, bravio.
E dele ouço sempre o mesmo cantar, num leva e trás de memórias.
O Mar que eu gosto mora numa praia vazia.
O Mar que eu gosto tem um céu nublado.
Na praia das minhas memórias o meu Mar se chama Poesia.