A PELE
A pele dos dedos,
que a pena segura,
não é a mesma de quando era menino,
é mais escura; mais dura,
porque muda e em mim passa,
e quando se renova, é a prova
de que é mais um engano,
que de mim faz mais carcaça em cada ano,
e as rugas tornam-se escrita das saudades;
do menino, que com sua pele, ainda nova,
queria ser grande; mais velho,
mas que, agora, queria ter a pele nova,
como estava quando na pele de sua mãe mamava,
embora não tivesse a pena, que agora tem,
para escrever, em poema,
as saudades de quando mamava
na pele de sua mãe.
Agora, por fora, com a pele mais dura,
mas por dentro ainda de menino,
que foge do sol,
para tomar banhos de luar e de seu rol
e imaginar sua mãe a dar-lhe banho,
para limpar e amaciar sua pele de rugas;
feita leito de rios, de fugas,
onde correm saudades de ternuras quentes,
nestes tempos duros; frios,
com tanta falta de calor do amor,
cada vez mais preciso,
que agora já não se tem,
como no tempo em que se tinha uma mãe!
...xx...
Autor:
Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque
Gondomar-Portugal
Figas